AS TRÊS REGRAS DO QUADRINHO CEARENSE
Este ano o Manicomics faz 20 anos. Para quem não sabe,
Manicomics foi (talvez) o mais importante fanzine de quadrinhos da história das
HQs cearenses. Durante seus anos de publicação (a qual envolvia impressão de
baixo custo e distribuição relativamente regular), funcionou como uma nau desbravadora
para um grupo emergente de novos autores, os quais iam do experimentalismo aos
estilos clássicos com desenvoltura e comprometimento, levando-os a serem
laureados três vezes com o HQ Mix, mais importante premiação brasileira da nona
arte.
Apesar dos vários bons nomes que passaram pelo Manicomics, três
se destacam não somente por terem sido os criadores e editores do título, mas
pelo impacto que seus trabalhos tiveram na identidade e mercado de quadrinhos
cearenses como um todo e que podem ser sentidos até hoje: JJ Marreiro, Daniel
Brandão e Geraldo Borges. Em sua homenagem, nesse texto quero contar as
histórias sobre eles que me levaram a criar as três regras do quadrinho
cearense.

FAÇA SE DIVERTINDO: Lá por meados de 2012-2013 eu comecei a
trabalhar na mesma instituição que JJ Marreiro. Trabalhávamos na área da educação e,
por várias vezes, quadrinhos foram nossa pauta de conversas e sugestões de uso
como ferramentas educativas. JJ tem uma vasta experiência como professor e
sempre trazia algo interessante aos materiais que produzíamos. Jota é uma das
pessoas mais criativas que conheço, capaz de acessar uma infinidade de ideias
tão rápido como um mágico puxa lenços de suas mangas. Com o tempo eu comecei a
me perguntar porque ele não colocava essas ideias debaixo do braço e seguia pra
conquistar o mundo por si mesmo. Sem que eu precisasse falar o que se passava
em minha cabeça, a resposta veio numa conversa informal em que ele disse: “Ah
os quadrinhos que faço aqui são trabalho. Eles possuem um direcionamento e
objetivos pré-definidos por outro. Quando faço MEUS quadrinhos eu sigo uma regra:
eu tenho de me divertir fazendo.” Assim entendi o quanto quadrinhos era algo
bem maior, pessoal e libertador para ele.
Sempre que me convidam a falar de quadrinhos cearenses eu cito
essas três “regras”. As pessoas que me ensinaram não são mestres incorruptíveis
da nona arte, que começaram sabendo e acertando todos os passos da jornada que
é viver de quadrinhos no Brasil. Os 20 anos da revista que os lançou e publicitou
estão aí pra provar isso. Acima de tudo, no entanto, são pessoas que
descobriram seu lugar dentro do meio e não se negaram a dividir essa descoberta
com outros, por isso sempre os cito como criadores dessas lições e que margeiam
minha opinião e crença sobre quadrinhos.
(Matéria publicada originalmente na RIvista edição 170. Editora RISO)
(Matéria publicada originalmente na RIvista edição 170. Editora RISO)